Entender a classe C virou um dos grandes interesses das empresas e dos políticos.

Entender a classe C virou um dos grandes interesses das empresas e dos políticos. "A classe C está cada vez mais seletiva tanto na hora de consumir quanto de escolher seus governantes", disse o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino. O que significa, em poucas palavras, que esse grupo está cada vez mais informado. Para tentar medir com mais precisão os sonhos de consumo dos mais pobres, uma empresa de marketing (Ponte) vem treinando, nas periferias, moradores para servirem como "antenas", chamados para descrever tendências ou testar a aceitação de produtos. Por essas "antenas" se captam movimentos como a abertura de agências bancárias em favelas, a venda de mais computadores do que aparelhos de televisão e a troca de sabão em pedra por detergente. Entende-se por que os pobres transformaram as lan houses no mecanismo de acesso à banda larga, sem nenhuma interferência oficial. De olho nesse mercado, a Net anunciou, na semana passada, adesão ao projeto de banda larga popular criado em São Paulo. De acordo com projeções da Intel, o Brasil será, no próximo ano, o terceiro maior mercado de computadores do mundo. Já somos o segundo maior mercado de cosméticos.Um relatório feito pela TV1 mostra que o Orkut é um dos maiores domínios da internet no Brasil por causa da classe C -é mais barato pagar alguns minutos numa lan house e se comunicar com os amigos do que usar um celular.Nas pesquisas levantadas pela Ponte aparece, com nitidez, que o sonho da classe C é a faculdade -o diploma do ensino superior se transformou numa espécie de porta de saída da pobreza tão forte como o sonho da casa própria.O Bolsa Família tem o impacto direto no orçamento. Mas a mensalidade escolar é vista não só pelo impacto no presente mas também no futuro. Pode-se argumentar (e com boa dose de razão) que isso é uma ilusão.Mas é assim que a faculdade vem dividindo com a casa própria os sonhos populares -aliás, segundo o Datafolha, ensino vem muito na frente, na lista dos setores mais bem avaliados, do que habitação, apesar das milionárias campanhas publicitárias do "Minha Casa, Minha Vida". (Gilberto Dimenstein)